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Você é acometido pela Síndrome de Burnout ?

Para responder a esta pergunta vamos compreender inicialmente o que vem a ser esta Síndrome e seu impacto na vida do individuo e da sociedade.

A Síndrome de Burnout é conceituada de diversas formas, Hallaket al.[1] assim a define:

O termo burnout é definido, segundo um jargão inglês, como aquilo que deixou de funcionar por absoluta falta de energia. Metaforicamente é aquilo, ou aquele, que chegou ao seu limite, com grande prejuízo em seu desempenho físico ou mental. A síndrome de burnout é um processo iniciado com excessivos e prolongados níveis de estresse (tensão) no trabalho.

Benevides[2] em seu texto “Burnout: O Processo de adoecer pelo Trabalho”, explica o conceito da síndrome:

Burn-out, ou simplesmente, burnout é um termo (e um problema) bastante antigo. Burn-out no jargão popular inglês, se refera àquilo que deixou de funcionar por absoluta falta de energia. Como gíria de rua, pode aludir àquele que se acabou por excesso de drogas (França, 1987). Enfim, uma metáfora para significar aquilo, ou aquele, que chegou ao seu limite, e por falta de energia não tem mais condições de desempenho físico e mental.

O Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde[3] define a doença como

A sensação de estar acabado ou síndrome do esgotamento profissional é um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem de si e dos outros. O trabalhador que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e, em um dado momento, desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe parece inútil.

Para Ballone[4] o termo Burnout é assim compreendido:

O termo Burnout  é uma composição de burn= queima e out= exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. A expressão burnoutem inglês, entretanto, significa aquilo que deixou de funcionar por completa falta de energia, por ter sua energia totalmente esgotada, metaforicamente, aquilo que chegou ao seu limite máximo (grifo no original).

Pode-se depreender das lições destes autores, que a essência da tentativa conceitual da Síndrome de Burnout esta sempre relacionada com o esgotamento, à exaustão, muito além do estresse. É levar o individuo se tornar inválido para o trabalho e para a vida. Sendo necessário diferenciar o limite, a linha divisória entre o estresse e a síndrome para que não haja uma errada utilização dos termos.

Inicialmente, é necessário ressaltar que a presença do estresse na vida de uma pessoa não é um fato preponderantemente maléfico, já que o mesmo é um indicador da mente para que a pessoa em uma determinada situação fique em alerta.

A psicologia explica que o estresse possui três níveis, explicados por Andrade e Cardoso[5], o primeiro a se manifestar é a reação de alarme, para que a pessoa esteja atenta ao acontecimento e que possa se preparar para dar uma resposta à mesma, considerada como útil a sobrevivência e a adaptação do ser humano as mudanças em sua vida.

Na Fase da Resistência, a mente e o corpo trabalham em conjunto para resistir à situação adversa caso a mesma demore a passar. É na última fase, chamada de Exaustão, que se instala o estado doentio do que inicialmente se apresenta como beneficio ao homem.

O estresse nesta Fase de Exaustão que ocorre no ambiente de trabalho é em geral denominado de estresse laboral, como explica Andrade e Cardoso[6].

O estresse ocupacional pode ser entendido como o resultado de relações complexas entre condições de trabalho, condições externas ao trabalho e características do trabalhador, nas quais a demanda das atividades excede as habilidades do trabalhador para enfrentá-las (Murphy,1984). O indivíduo começa a perceber seu ambiente de trabalho como ameaçador, quando sua necessidade de realização pessoal e profissional, e/ou sua saúde física ou mental, prejudicam a interação desta com o trabalho e que este ambiente tenha demandas excessivas a ele, ou que ele não contenha recursos adequados para enfrentar tais situações (França e Rodrigues, 1997). Neste contexto, ocorre um desgaste anormal e/ou uma diminuição da capacidade do organismo para o trabalho.

Percebe-se que a síndrome ultrapassa o estresse, transformando-se em um estresse crônico, algo que se perpetua na vida do indivíduo, deixando-o em estado de alerta sempre, ocasionando comportamentos que podem gerar consequenciais na saúde física e mental do trabalhador, afetando sua vida social, familiar e laboral.

Identificando os Elementos Estressores

Os elementos aqui tratados são chamados de estressores, que são estímulos que podem se apresentar de uma maneira fraca ou forte na dinâmica da vida nos setores cognitivos, físico ou emocional, definindo desta maneira a consequência no corpo e na mente do trabalhador.

É essencial que se diferencie o estresse dos agentes estressores, estes se apresentam primeiro, impondo uma reação ao individuo a uma nova situação vivenciada, é neste momento que se configura o estresse, que busca a capacidade adaptativa do ser.

Benevides[7] auxilia na identificação dos agentes estressores e os classifica deste modo

Estressores Físicos: são provenientes do ambiente externo tais como ruídos, frio ou calor intenso e\ou persistente, acidentes, fome, dor, etc., ou que interferem predominantemente no corpo do individuo como excesso de exercícios físicos, alimentação pesada, utilização de drogas, etc.

Estressores Cognitivos: são avaliados como ameaçadores à integridade do individuo e ao seu patrimônio (físico ou psicossocial), tais como a vivência ou iminência de um assalto, envolvimento em uma discussão, seleção a um emprego, provas, etc.

Estressores Emocionais: sentimentos como perda, medo, ira, entre outros, ou acontecimentos como casamento, divórcio, mudança (casa, escola, cidade, etc), em que o componente afetivo se faz mais proeminente.

Em relação à Síndrome de Burnout, podem ser identificado, no caso concreto, apenas um deles, ou a combinação de mais de um agente; nas leituras percebe-se que, em geral, há a presença combinada de agentes estressores cognitivos e emocionais.

A composição da síndrome é a associação das características pessoais do funcionário e da realidade vivida pelo mesmo no ambiente do trabalho, definindo desta maneira, que o mesmo ambiente de trabalho pode ou não gerar o acometimento da Síndrome de Burnout, já que a personalidade do trabalhador tem participação fundamental no aparecimento deste estado.

Como identificar a Síndrome de Burnout.

Como já tratado anteriormente, a presença da exaustão emocional se faz presente, o trabalhador apresenta-se irritado, preocupado, sem esperança ou motivação; é possível a identificação de depressão, uma lentidão de pensamentos e ações, mas é possível que o quadro seja o inverso, apresentando-se agressivo, com comportamentos de alto risco.

Em se tratando do corpo, há uma maior propensão a doenças, apresentando um quadro de fadiga constate e progressiva, sempre apresentando queixas relacionadas a mal – estar, ou doenças que requeiram atenção maior, como por exemplo, o desenvolvimento de problemas gastrointestinais, o que o leva a afastar-se do trabalho.

A baixa produtividade do trabalhador está relacionada com suas faltas constantes ou, se presente ao ambiente de trabalho, comporta-se distante, indiferente em relação aos outros, sejam seus colegas ou clientes, há um afastamento emocional. O que se constata é que este funcionário não participa de nenhuma atividade inovadora na empresa, não auxiliando na evolução da mesma, conforme Benevides[8].

Ocorre a probabilidade de um maior numero de acidentes de trabalho, em virtude da falta de concentração e de atenção por parte do obreiro, percebendo que ele se torna negligente na execução de suas tarefas.

Flávia Pietá[9], em seu artigo sobre o tema, aborda o sofrimento do individuo e descreve como ele se percebe dentro da organização.

 sentimento de indignidade: experimentado como a vergonha de ser robotizado, de não ser mais que um apêndice da máquina, às vezes de ser sujo, de não ter mais imaginação ou inteligência, etc;

 sentimento de inutilidade: percebido pela falta de qualificação e de finalidade de trabalho, já que muitas vezes não conhecem a própria significação de seu trabalho em relação ao conjunto da atividade da organização;

 sentimento de desqualificação: cujo sentido repercute não só para si com para o ambiente de trabalho.

Em seu estudo Câmara e Carlotto[10] sintetizam de forma didática, e de fácil entendimento, as dimensões que compõe a Síndrome de Burnout, preleciona.

 É um construto formado por três dimensões relacionadas, mas independentes. Exaustão Emocional, caracterizada pela falta ou carência de energia e entusiasmo e sentimento de esgotamento de recursos. A estes sentimentos soma-se o de frustração e tensão, pois os trabalhadores passam a perceber que já não possuem condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas como faziam anteriormente. A Despersonalização ocorre quando o profissional passa a tratar os clientes, colegas e a organização de forma distante e impessoal. Os trabalhadores passam a desenvolver insensibilidade emocional frente às situações vivenciadas por sua clientela. A Baixa Realização no Trabalho é caracterizada pela tendência do trabalhador em se auto-avaliar de forma negativa. Ele torna-se insatisfeito com seu desenvolvimento profissional e experimenta um declínio no sentimento de competência e êxito.

É importante o estudo deste tema por todos os profissionais, em especial os da área da saúde em virtude da Pandemia instalada no Mundo.

Em outro momento abordaremos a Síndrome e seu impacto no Direito Brasileiro.


[1]HALLAK, J. E. C; TENG, C. T. TRIGO, T. R. Síndrome de Burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Rev. Psiq. Clín 34 (5); 223-233, 2007;Disponível emhttp://www.scielo.br/pdf/rpc/v34n5/a04v34n5.pdf.Acesso: 01.out.2015.

[2]BENEVIDES- PEREIRA, Ana Maria T. (Org.).Burnout: o processo de adoecer pelo trabalho.In: ——Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Caso do Psicólogo, 2002.p.22.

[3] MANUAL DE PROCEDIMENTOS PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE. Ministério da Saúde do Brasil. Brasília/DF – Brasil, 2001. Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/susdeaz/instrumento/arquivo/16_Doencas_Trabalho.pdf>. Acesso em: 01 out. 2015.

[4]BALLONE, G. J. Síndrome de Burnout. In. PsiqWeb. 2009. Disponível em: <www.psiqweb.med.br>. Acesso em: 01 out. 2015.

[5]ANDRADE, P. S. CARDOSO, T. A. Prazer e dor na docência: revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Burnout. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010412902012000100013.>Acesso em: 01. out.2015.

[6]Ibid

[7]BENEVIDES- PEREIRA, Ana Maria T. (org.). Agente estressor e estresse: elementos distintos no processo. In: Burnout: Quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Caso do Psicólogo, 2002.p.27

[8]BENEVIDES- PEREIRA, Ana Maria T. (Org.).Burnout: o processo de adoecer pelo trabalho. In: ——Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Caso do Psicólogo, 2002.p.22.

[9]SILVA, F. P. P. Burnout: Um desafio à saúde do trabalhador. PSI- Revista de Psicologia social e institucional. volume 2- numero 1- jun\2000.Disponível em:http://www.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n15.htm.Acesso em: 01 out.2015.

[10] CARLOTTO, M. S. CÂMARA, S. G.Análise da produção científica sobre a Síndrome de Burnout no Brasil.Revistas eletrônicas PUCrs v. 39, n. 2, pp. 152-158, abr./jun. 2008. Disponível em: <file:///C:/Users/M%C3%B4nica/Downloads/DialnetAnaliseDaProducaoCientificaSobreASindromeDeBurnout-5161619%20(1).pdf>. Acesso em: 01 out. 2015.

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